Aula 3 – Categorias de palavras do grego bíblico Olá, estudante! Bem-vindo à nossa terceira aula da disciplina de Grego Bíblico do Novo Testamento. Nesta aula, trataremos, de modo geral, das características e do funcionamento das categorias de palavras gregas, do grego koinê. Então, vamos lá? Numa modalidade de grego instrumental, consideramos importante que você, estudante, saiba, de modo geral, como funcionam as categorias de palavras de uma língua: substantivos, adjetivos, artigos, pronomes etc. Isso é um “corta caminho” no estudo de uma língua instrumental. Convém dizer que o estudo das categorias de palavras gregas, que será feito nesta aula, não contempla as suas inúmeras flexões e conjugações. Contudo, tratando-se de um estudo instrumental de uma língua, isso é dispensável, a nosso ver. No entanto, se tiver conhecimento das informações necessárias a respeito de uma palavra, por meio de um léxico analítico e do seu funcionamento na estrutura da frase, é possível traduzir qualquer frase grega. Aspectos introdutórios Antes de estudarmos as várias categorias de palavras, é importante sabermos a respeito do gênero das palavras no grego do Novo Testamento, visto que várias categorias de palavras (substantivos, adjetivos, artigos, etc.) utilizam os vários gêneros gregos, que são diferentes daqueles que usamos no português. Nos próximos tópicos faremos um esclarecimento sobre a diferença entre declinação e conjugação. 34 Gênero Em português, nós temos apenas os gêneros masculino e feminino. No grego, além dos gêneros masculino e feminino, existe também o neutro. O neutro é usado tanto para coisas, quanto para pessoas ou personalidades. “Espírito”, por exemplo, t? p?e?µa (to pneuma/o Espírito), e “demônio”, t? da?µ????? (to daimonion/o demônio), são palavras neutras no grego. Obviamente, como não temos o gênero neutro em nossa língua, uma palavra grega neutra deverá ser traduzida para o nosso idioma pelos gêneros masculino ou feminino, dependendo do gênero da palavra em nossa língua, ou seja, em grego a palavra poderá ser neutra, contudo no português ela será masculina ou feminina. Também pode acontecer que uma palavra seja feminina em grego, enquanto no português essa mesma palavra possa ser masculina, ou vice-versa. Por exemplo: a palavra ???p? (agápe/amor), em grego, é feminina, porém, em português, ela é masculina. Assim, traduzimos essa palavra para o português como sendo masculina, uma vez que ela é masculina, em nossa língua. Declinações e conjugações Antes de falarmos a respeito de categorias das palavras, é necessário distinguir entre declinação e conjugação. O grego do Novo Testamento é uma língua flexionada. Quando a flexão se refere a verbos, dizemos conjugação. Quando se refere à flexão de substantivos, adjetivos e pronomes, falamos em declinação. Língua flexionada: trata-se da modificação de várias categorias de palavras de uma língua, para expressar diferentes categorias gramaticais (modo, tempo, voz, pessoa número, gênero, caso). 35 As categorias de palavras As categorias de palavras na língua grega são nove (9): artigos, adjetivos, verbos, preposições, advérbios, conjunções e partículas, numerais e interjeições. A exposição, abaixo, segue a ordem citada, embora não seja uma ordem de importância, mas sim um estudo crescente das categorias de palavras. Assim sendo, dedicou-se um espaço maior aos verbos, não só por sua extensão e complexidade, mas também porque eles são a parte mais importante numa frase. Artigo O artigo definido tem a função de definir ou identificar um certo substantivo e/ou adjetivo. Assim como outras categorias de palavras, ele emprega os casos gregos (menos o vocativo), os gêneros (masculino, feminino ou neutro) e o número (singular ou plural). Quanto aos gêneros, no nominativo, singular, ele é representado da seguinte maneira: ? (ho/o), ? (he/a) t? (tó/o ou a). Num léxico analítico e em outras literaturas, o gênero dos substantivos e adjetivos é indicado da maneira acima referida. Por isso, preste atenção nessa nomenclatura sempre que consultar um léxico sobre um substantivo ou adjetivo. Nomenclatura: é um conjunto de nomes, designações e convenções para identificar algo que se quer identificar. Veja, nos exemplos abaixo, como aparecem num dicionário: ?d???a (adikía/injustiça), ? - ? (he/a) indica que a palavra (substantivo) é feminina. 36 ?de?f?? (adelphos/irmão), ? - ? (ho/o) indica que o substantivo é masculino. ß?ß???? (biblíon/livro), t? - t? (tó/o ou a) indica que o substantivo é neutro (que, na nossa tradução, terá que ser masculino ou feminino, visto que em nossa língua não existe o gênero neutro). Assim como acontece com o substantivo e o adjetivo, o artigo definido declina, ou seja, tem as suas terminações, dependendo do caso, do gênero e do número. Isso significa que, quando um substantivo e/ou adjetivo é precedido de um artigo definido, ele concorda com esse artigo em caso, gênero e número. Veja, abaixo, o exemplo de João 14.6: “[...] ??? e?µ? ? ?d?? ?a? ? ????e?a ?a? ? ??? [...]”. “[...] Ego eimi he hodos kai he aletheia kai he zoe [...]”. “[...] Eu sou o caminho e a verdade e a vida [...]”. Veja que ? ?d?? (he hodos/o caminho) concordam em caso (ambos estão no nominativo), em gênero (ambos são femininos, embora ?d?? tenha que ser traduzido para o masculino, em português, visto que em nossa língua “caminho” é uma palavra masculina) e em número (ambos estão no singular). Essa mesma situação acontece com ? ????e?a (he aletheia/a verdade) e ? ??? (he zoe/a vida). Ambas as palavras, com seus artigos correspondentes, estão no caso nominativo, são femininas e estão no plural. Aqui vai uma dica importante para você, que está iniciando o estudo de grego: as propriedades do artigo (caso, número e gênero) dizem muito a respeito do substantivo ou do adjetivo que o sucede, já que essas categorias de palavras concordam nessas propriedades. Por isso, vale a pena, se possível, decorar o artigo. 37 Veja, abaixo, no Quadro 3.1, o artigo definido, em todos os casos (menos no vocativo), gêneros e números (singular e plural). Quadro 3.1 – O artigo definido Gênero Caso Singular Plural Grego Tradução Grego Tradução Feminino Nominativo ? (he) a a? (hai) as Vocativo - - - - Acusativo t?? (ten) a t?? (tas) as Genitivo t?? (ten) da t?? (tov) das Dativo t? (te) à ta?? (tais) às Masculino Nominativo ? (ho) o ?? (hoi) os Vocativo - - - - Acusativo t?? (tov) o t??? (tous) os Genitivo t?? (tou) do t?? (ton) dos Dativo t? (to) ao t??? (tois) aos Neutro Nominativo t? (to) o/a t? (ta) o/a Vocativo - - - - Acusativo t? (to) o/a t? (ta) o/a Genitivo t?? (tou) do/da t?? (ton) dos/das Dativo t? (to) ao/às t??? (tois) aos/às Fonte: O autor (2018) Observe que: 1. Não há artigo no caso vocativo. 2. No gênero neutro, o artigo pode ser traduzido para o português, tanto no gênero feminino, quanto no masculino, visto que em nossa língua não temos esse gênero. 38 Você pode estar se perguntando: E o artigo indefinido? Este artigo não existe em grego. Quando um substantivo aparece sozinho, se for quantificável, você pode traduzi-lo acrescentando “um, uma, uns, umas”. Os gregos usavam o artigo definido de modo diferente daquele que usamos em nossa língua. Frequentemente, o artigo definido é usado antes de nomes próprios, como, por exemplo: ? ??s??? (ho Iesous/Jesus). Na tradução, você pode omitir o artigo, traduzindo apenas como “Jesus”. Também usavam o artigo antes de substantivos abstratos, como em: ? ????e?a (he aletheia/a verdade), porém, neste caso, é necessário traduzir o artigo. Substantivo O substantivo é uma palavra que designa a existência de pessoas, animais, lugares ou coisas. Em termos de função gramatical, dentro de uma oração, os substantivos terão uma determinada função e empregarão um dos casos, já vistos anteriormente. Lembre-se de que, de um modo geral, ? Ser o sujeito da oração, que estará no caso nominativo; ? Assumir a função de invocação, estando essa palavra no caso vocativo; ? Ser o objeto direto do verbo que estará no caso acusativo; ? Indicar posse, que assumirá o caso genitivo; ? Ser o objeto indireto do verbo, indicado pelo uso do caso dativo. um substantivo pode 39 Quanto ao gênero, como foi visto anteriormente, um substantivo pode estar no gênero feminino, masculino ou neutro. E, em relação ao número, pode estar no singular ou plural. Em resumo: O substantivo, em sua maioria, é flexionável, ou seja, tem as suas declinações que indicam o caso, o número e o gênero. Apenas para sua informação: as declinações seguem três padrões que, para o nosso estudo, são irrelevantes, pois não estamos fazendo um curso de gramática grega. Assim, basta que você, ao consultar um léxico, saiba o gênero, o caso, o número, e o sentido básico do substantivo, o que lhe permitirá traduzir o substantivo com exatidão, mesmo sem saber especificamente a respeito da sua flexão. Por último, existem alguns substantivos que são indeclináveis, ou seja, a sua forma não muda, independentemente do seu significado ou função na frase grega. É o caso dos nomes pessoais e vocábulos tomados por empréstimos de outros idiomas. (MOUNCE, 2009, p. 33). No léxico, essas palavras aparecerão com seus significados, e constarão que são indeclináveis. Adjetivo Como você sabe, o adjetivo é uma palavra que qualifica um substantivo. Por exemplo: O homem é bom. “Bom” é uma qualidade (adjetivo) de “O homem Um substantivo terá as seguintes propriedades: caso (nominativo, vocativo, acusativo, genitivo ou plural), gênero (masculino, feminino ou neutro), número (singular ou plural). 40 [...]”. Portanto, o adjetivo qualifica o substantivo que, nesse caso, é o sujeito da frase. Muito do que foi dito, anteriormente, para a categoria do substantivo serve também para a categoria do adjetivo, o qual emprega os casos gregos (nominativo, vocativo, acusativo, genitivo e dativo), os seus gêneros (masculino, feminino e neutro), e o número (singular ou plural). Além disso, quando um substantivo tem um adjetivo, este concorda com o substantivo em caso, número e gênero, tanto no uso atributivo, quanto no predicativo, assim como acontece com o artigo e o substantivo, como vimos anteriormente. Veja o exemplo, já dado anteriormente: ? µa??t?? p?st?? (ho mathetes pistos) o discípulo (é) fiel. Observe que todas as palavras acima concordam entre si, em caso (nominativo), em gênero (masculina) e em número (singular). Trata-se do uso predicativo do adjetivo, que assume o mesmo caso do sujeito. O verbo está implícito, embora possa aparecer explicitamente também. Lembra-se disso? Assim como o substantivo tem as suas várias declinações, o adjetivo também as têm. Porém, como foi dito anteriormente, você não precisa decorar, nem saber essas declinações, o que seria bastante complicado para um breve estudo de grego instrumental, como é o nosso caso. Bastará que você, estudante, em relação ao adjetivo, saiba, por meio de um léxico analítico, o caso, o gênero e o número do adjetivo. De posse dessas informações, não há como errar na tradução. Por último, um adjetivo pode ser usado como um substantivo, a isso se chama de uso substantivado de um adjetivo. Veja o exemplo a seguir. ? ??a??? (ho agathos) O bom, ou 41 O (homem) bom. Pode-se acrescentar a palavra homem ou mulher, dependendo do gênero do adjetivo. Veja como fica no versículo bíblico João 6.69: “[...] s? e? ? ????? t?? ?e??”. “[...] sú ei ho hágios tou Theou”. “[...] tu és o santo de Deus”. Note, no versículo acima, que o adjetivo é usado como um substantivo. Por último, um adjetivo pode se transformar em um advérbio, contudo isso será visto mais adiante, quando tratarmos da categoria dos advérbios. Verbos Os verbos são a categoria de palavras mais importante numa frase. Conhecê-los (especialmente a sua conjugação) é fundamental para a tradução de uma frase ou versículo bíblico em grego. No entanto, diga-se de passagem, é a categoria de palavras mais difícil de dominar. Não é à toa que grande parte das gramáticas destinam um grande espaço para esse assunto. E, nessa aprendizagem, por meio do grego instrumental que está estudando, você vai cortar um longo caminho Os verbos têm as suas numerosas conjugações, porém, nem elas, nem os processos na formação dos verbos serão transcritos e explicadas detalhadamente, nesta disciplina. À semelhança dos substantivos e adjetivos, de um modo geral, basta você saber o sentido do verbo, a pessoa, o tempo verbal, o modo e a voz, para poder traduzir um verbo grego. Todas essas informações estão disponíveis num léxico analítico do Novo Testamento, o qual traz todas as informações de todos os verbos que ocorrem 42 no texto bíblico, restando a você apenas conjugá-los, consoante as informações nele apresentadas. Assim, apresentamos algumas conjugações de como seriam traduzidos verbos gregos para o português, de acordo com os seus modos, tempos verbais, pessoa e voz. Você pode perguntar: Mas este não é um estudo de grego instrumental? Sim, na experiência do autor, esta é a maneira mais fácil de estudar o grego instrumental. Há duas razões para isso: a primeira, é que seria muito difícil estudar todas as conjugações de verbos gregos (regulares e irregulares), apenas em uma disciplina de grego instrumental do Novo Testamento. A segunda, consiste no fato de que muitos estudantes têm dificuldades de conjugar verbos, até mesmo em português. Assim, se você, estudante, tiver acesso a um verbo grego, por meio de um léxico analítico, com informações sobre o modo, o tempo, a pessoa, a voz e o sentido desse verbo, mais uma tabela em português, à qual possa recorrer, poderá traduzir qualquer verbo grego, mesmo não sabendo todo o funcionamento que existe por trás desse verbo. Em relação aos verbos tomados como exemplos, nos vários quadros exemplificativos destas aulas, usaremos verbos normalmente comuns nas gramáticas gregas (Alexandre et al), como o verbo ??? (lúo/solto). No entanto, antes de iniciarmos as conjugações da língua grega, é necessário que tenha algumas informações indispensáveis, a fim de que você compreenda como funcionam os verbos gregos. Assim sendo, começamos por lembrar uma informação útil, dada por Rega e Bergmann (2004, p. 25), em sua obra, a respeito da função do verbo: “Verbo é toda palavra que indica ação (caminhar, estudar), estado (ser, ficar), fenômeno natural (amanhecer, chover), ocorrência (acontecer, suceder), desejo (almejar, querer) e outros processos”. 43 Tempo verbal e aspecto verbal Há uma particularidade que você, agora estudante de grego, precisa entender: a diferença entre o tempo verbal e o aspecto verbal. O grego usa o verbo de modo diferente daquele a que estamos acostumados. Em português, o tempo verbal é usado, principalmente, para designar o momento em que uma ação é feita. A ação pode ter sido feita no passado, estar sendo feita no presente, ou poderá ainda ser feita no futuro. Assim, a ênfase é dada no tempo, no “quando” a ação aconteceu. No entanto, no grego, a função principal do verbo não é tanto expressar o tempo, o quando, quanto o estado ou o tipo de ação que se chama aspecto do tempo. Nesse sentido, o aspecto do verbo, em grego, tem sua ênfase no como aconteceu, acontece, ou acontecerá a ação. Assim, em grego, o aspecto do verbo representa três situações, tal como nos informa Rega e Bergmann (2004, p. 26-27), em sua obra, a saber: O aspecto durativo fala de uma ação contínua, que acontecia, que está acontecendo, ou que estará acontecendo. O aspecto pontilear designa uma ação que foi feita, ou que será feita, pontualmente. O aspecto resultante designa um estado, ou seja, algo que foi feito, contudo o seu resultado ainda permanece. O aspecto durativo ou linear O aspecto pontilear O aspecto resultante 44 Veja, abaixo, o Quadro 3.2, que resume o aspecto e o tempo verbal no grego: Quadro 3.2 – Aspecto verbal do verbo grego Aspecto ou Qualidade da Ação Tempo Durativo Presente Imperfeito Futuro Pontilear Aoristo Presente Futuro Resultante Perfeito Mais-que-perfeito Fonte: REGA; BERGMANN (2004, p. 29 – Adaptado) Os modos e seus tempos verbais A língua grega do Novo Testamento tem todos os nossos modos, contudo, o contrário não é verdadeiro, pois não temos todos os modos da língua grega. Ela tem um modo a mais, chamado de optativo, que não é muito usado no Novo Testamento. Quanto aos tempos verbais no grego, eles também não coincidem totalmente com os tempos verbais dos modos da nossa língua, cujas diferenças serão apresentadas à medida que formos abordando os vários modos da língua grega, que são seis: quatro finitos ou verbais e duas formas nominais. ? Indicativo ? Subjuntivo ? Optativo Os modos verbais 45 ? Imperativo ? Infinitivo ? Particípio O modo indicativo Este modo, relativamente parecido com o nosso modo indicativo, inclui os seguintes tempos verbais: Dos tempos verbais acima indicados, o presente, o pretérito imperfeito, o Aoristo 1 e 2, que equivalem ao nosso pretérito perfeito, o futuro e o pretmaisque-perfeito são idênticos aos tempos verbais do indicativo da nossa língua. Com relação ao Aoristo 1 e 2, ambos equivalem ao nosso pretérito perfeito, e por que 1 e 2? Porque o Aoristo tem duas formas. Alguns verbos usam a forma 1, enquanto outros usam a forma 2, porém, o sentido é o mesmo do pretérito perfeito para ambos. Note que o futuro do pretérito não existe em grego, por exemplo: eu soltaria, tu soltarias, ele soltaria, etc. Quanto ao perfeito, parecido com o nosso particípio, não tem equivalência em português e funcionaria com um verbo auxiliar, por exemplo: “Eu tenho soltado, tu tens soltado, ele tem soltado etc.”. No que se refere ao pretérito maisque-perfeito, ele não é muito usado no grego do Novo Testamento. Os modos nominais Presente Aoristo 1 e 2 (pretérito perfeito) Pretérito imperfeito Perfeito 1 e 2 Mais-que-perfeito Futuro 46 Veja, abaixo, no Quadro 3.3, a exemplificação do funcionamento dos tempos verbais do grego, no modo indicativo, nas vozes ativa, passiva e média. Em grego, a voz média tem o mesmo sentido da voz ativa. Quadro 3.3 – Tempos verbais no modo indicativo Tempo Voz Ativa Voz passiva Média Presente Eu solto, tu soltas, ele solta.. Eu estou sendo solto, tu estás sendo solto... Eu solto para mim mesmo, tu soltas para ti mesmo... Pretérito Imperfeito Eu soltava, tu soltavas, ele soltava... Eu estava sendo solto, tu estavas sendo solto... Eu soltava para mim mesmo, tu soltavas para ti mesmo... Pretérito Perfeito (Aoristo 1 e 2) Eu soltei, tu soltaste, ele soltou... Eu fui solto, tu foste solto... Eu soltei para mim mesmo, tu soltaste para ti mesmo... Perfeito (1 e 2) Eu tenho soltado, tu tens soltado, ele tem soltado... Eu tenho sido solto, tu tens sido solto... Eu tenho soltado para mim mesmo, tu tens solto para ti mesmo... Mais-queperfeito Eu soltara, tu soltaras, ele soltara... Eu tivera sido solto, tu tiveras sido solto... Eu soltara para mim mesmo, tu soltaras para ti mesmo... Futuro Eu soltarei, tu soltarás, ele soltará... Eu serei solto, tu serás solto... Eu soltarei para mim mesmo, tu soltarás para ti mesmo... Fonte: O autor (2018) Observação: Não completamos o quadro porque acreditamos que você é capaz de dar continuidade às conjugações, pelo conhecimento que já tem da língua portuguesa. 47 Agora, com base no quadro anterior, veja como é fácil traduzir um verbo no modo indicativo.





Suponha que você tenha que traduzir, num versículo bíblico, os seguintes verbos que você encontrará num léxico analítico: ??ap? - v. 3ª pessoa, singular, presente, indicativo, ativo, vem do verbo ??ap?? (agapao/amo) – ele (a) ama. d?d??e? – v. 3ª pessoa singular, perfeito, indicativo, ativo, vem do verbo d?d?µ? (dídomi, dou) – ele tem dado. De posse das informações acima, você pode facilmente traduzir cada um dos verbos, usando o quadro do indicativo, dado anteriormente como exemplo. O verbo ativo ??ap?? (agapao/amo) e o d?d?µ? (dídomi/dou), que aparecem no final da análise, são a palavra-chave e podem ser encontrados em qualquer dicionário e léxico analítico grego. Eles dão a dica do sentido do verbo, bem como de todos os itens referentes à análise deles. Além disso, os dois verbos acima mencionados fazem parte do versículo bíblico de João 3.35. Vejamos então: “? pat?? ??ap? t?? ????, ?a? p??ta d?d??e? ?? t? ?e??? a?t??”. “ho pater agapã ton hion, kai pánta dedoken en te cheiri autou”. “O pai ama o filho, e todas (as coisas) tem dado na mão dele”. O verbo ??ap? está no presente do indicativo, e o verbo d?d??e? está no perfeito do indicativo ativo. Como você já viu, no aspecto do verbo, ??ap? quer dizer que Deus ama o filho habitualmente, sempre, numa ação contínua, 48 enquanto o verbo d?d??e? significa que Deus deu todas as coisas ao Seu filho, de tal maneira que ainda continuam na mão do filho. O modo subjuntivo O modo do subjuntivo, diferentemente do indicativo que expressa a realidade, indica possibilidade, probabilidade. (MOUNCE, 2009, p. 346). O subjuntivo, em grego, existe apenas em três tempos: no presente, no Aoristo 1 e 2, e no Perfeito (neste, raramente), em todas as pessoas do singular e plural (eu, tu, ele, nós, vós, eles), e nas três vozes (ativa, passiva e média). O modo do subjuntivo tem uma variedade de usos, seja em orações principais e independentes, que expressam exortação, proibição, deliberação e temor, seja em orações subordinadas. (ALEXANDRE, 2003, p. 252-253). Um desses usos, muito comum, é para expressar finalidade. Neste caso, usam-se as conjunções ??a (hina/para que) e ?p?? (hopos/para que) que, no grego, é o modo mais comum de expressar finalidade. Uma dica para você, estudante de grego: sempre que vir ??a (hina/para que), pense na possibilidade de o verbo estar no subjuntivo. Veja, mais abaixo, no Quadro 3.4, um exemplo desse uso. Mounce (2009, p. 351) lista uma série de outras palavras que podem estar ligadas ao subjuntivo. Quadro 3.4 – Partículas e conjunções usadas com o Subjuntivo Partículas Sentido ?ta? (?te + ??) sempre quando ?a? (e? + ??) se ?? ?? todo aquele que ?p?? ?? sempre onde ??? até ??? ?? até que Fonte: MOUNCE (2009, p. 351) 49 Como foi visto, anteriormente, o grego faz um uso do verbo de modo diferente de como o usamos. Em grego, o tempo do subjuntivo não trata de tempo, mas sim apenas da diferença entre uma ação que se repete ou deve ser repetida (no caso do presente), ou uma ação que deve ser feita apenas uma vez, no caso do Aoristo 1 e 2. Assim, o subjuntivo não tem nada a ver com o tempo, mas sim com o aspecto da ação. A sua tradução, porém, dependerá do contexto, do verbo principal da frase, da conjunção, das partículas usadas, etc. Veja, a seguir, nos Quadros 3.5 e 3.6, um exemplo geral da conjugação do subjuntivo, exceto do tempo perfeito, por ser raro no Novo Testamento, e dos usos desse modo. Observação: O quadro seguinte apresenta uma conjugação geral, pois a conjugação vai depender: do contexto, das conjunções e partículas usadas, e do verbo principal da sentença. Quadro 3.5 – Tempos no modo subjuntivo Tempos Voz Ativa Voz Passiva Voz Média Presente Que eu solte Que tu soltes Que ele solte, etc. Que eu seja solto Que tu sejas solto Que ele seja solto, etc. Que eu solte em prol de mim mesmo Que tu soltes em prol de ti mesmo, etc. Aoristo 1 Que eu soltasse Que tu soltasses, etc. Que eu fosse solto Que tu fosses solto, etc. Que eu soltasse em prol de mim mesmo Que tu soltasses em ... Aoristo 2 Que eu lançasse Que tu lançasses, etc. Que eu fosse lançado Que tu fosses... Que eu lançasse em prol de mim mesmo Que tu... Fonte: O autor (2018) 50 Quadro 3.6 – Alguns usos do subjuntivo Usos Exemplos Exortativo “[...] ??????µe? e?? t? p??a?” (Mc 4.35) “[...] Dielthomen eis to peran” “[...] Vamos para o outro lado” Negação enfática c/ ?? µ? (jamais, enfático) “[...] ?? µ? ?p????ta? e?? t?? a???a, [...]” (Jo 10.28) “[...] ou me apolontai eis ton aiona, [...]” “[...] jamais perecerão para sempre, [...]” Propósito c/ ??a (para que) “[...] ta?ta ???f? ?µ?? ??a µ? ?µ??t?te [...]” (1 Jo 2.1) “[...] tauta grapho humin hína me hamartete [...]” “[...] estas coisas escrevo a vós para que não pequeis [...]” Condicional c/ ??? (se) “??? ??? µa?t??? pe?? ?µa?t??, [...]” (Jo 5.31) “ean ego martupo peri emautou, [...]” “Se eu testemunho sobre mim mesmo, [...]” Fonte: O autor Como você pôde perceber, os usos do subjuntivo são diversos e, por vezes, difíceis. Existem outros usos do subjuntivo, tais como: hesitação da vontade, uso deliberativo, expressão de temor, em frases concessivas, temporais e em orações relativas indefinidas, etc. Para mais informações, consulte as obras de Alexandre (2003) e Mounce (2009). ? Uso deliberativo: O uso deliberativo refere-se a um uso do subjuntivo, em orações independentes e principais, em que uma tomada de decisão é expressa. 51 ? Frases concessivas: O uso concessivo refere-se a um uso do subjuntivo, nas orações subordinadas, em que uma permissão ou autorização é expressa. O modo imperativo O uso do imperativo é também muito variado, assim como o do subjuntivo. De acordo com os autores Rega e Bergmann (2004, p. 268): ? Uma ordem ? Uma proibição ? Um pedido ou súplica ? Uma exortação ? Uma permissão O modo imperativo existe apenas na segunda e terceira pessoas, do singular e do plural, do presente e do Aoristo 1 e 2, e nas três vozes (ativa, passiva e média). Como, no Novo Testamento, o tempo perfeito só aparece quatro vezes, ele não constará no próximo quadro. Mais uma vez, lembramos que não é o objetivo desta disciplina, estudar todas as flexões, especialmente de substantivos, adjetivos e verbos, por serem muitas, mas sim fazer uma comparação entre o grego do Novo Testamento e o português. As informações sobre qualquer verbo, contidas num léxico, referentes à pessoa, ao tempo, ao modo e à voz, permitirão que você traduza qualquer verbo, mesmo não sabendo as flexões dos verbos gregos. Veja, no Quadro 3.7, como se faz a conjugação nos dois tempos do subjuntivo, usando um verbo na língua portuguesa. O imperativo serve para expressar 52 Quadro 3.7 –




Tempos do modo imperativo Tempo Presente e Aoristo 1 Ativa Passiva Média 1ª -------- ---------------------------- ---------------------------- 2ª solta sê solto solta para ti 3ª solte seja solto solta para si 1ª ------- ------------------------------ -------------------------- 2ª soltai sede soltos soltai para vós 3ª soltem sejam soltos soltem para eles Fonte: O autor (2018) Observações: ? Veja que o verbo, no modo imperativo, não é conjugado nem na 1ª pessoa do singular, nem na 1ª pessoa do plural. ? Os tempos presente, Aoristo 1 e 2 têm a mesma conjugação. Então, qual a diferença entre eles? A diferença está no aspecto verbal que não tem nada a ver com tempo, mas sim com a qualidade da ação. ? No tempo presente, a ação deverá ser feita ou não, continuamente, ser descontinuada, ou mesmo nunca praticada. Já no Aoristo 1 e 2, a ação deverá ser feita apenas uma vez. ? No quadro acima, não incluímos o Aoristo 2 por ele ter a mesma conjugação do Aoristo 1, exceto que emprega verbos diferentes. No entanto, a conjugação é a mesma, sejam quais forem esses verbos. ? Para quaisquer traduções do imperativo, consulte o quadro acima e considere-o como uma referência. 53 Note como funciona a tradução do imperativo, no versículo Mt 10.16 abaixo “[...] ???es?e ??? f????µ?? ?? ?? ?fe?? [...]”. “[...] gínesthe oun phronimoi hos hoi opheis [...]”. “[...] sede, portanto, prudentes como as serpentes [...]”. A tradução acima está exatamente na ordem das palavras gregas. Se você pegar ???es?e, e consultar um léxico analítico, encontrará a seguinte análise da palavra: 2 pes. pl. pres. imperat. méd. do verbo ????µa? (gínomai/sou, torno-me). O verbo ????µa? é o verbo-chave para você achar o seu significado no léxico, ou em um outro dicionário de grego, sendo que o significado básico desse verbo é: sou, torno-me, etc., entre outros significados. No contexto do versículo de Mateus, esse verbo tem o significado de “ser, tornar-se”. Agora, com base no Quadro 3.7, veja como é fácil traduzir o verbo. Lembre-se de que ele está no presente, o que significa que essa ação deverá acontecer continuamente, ou seja, a pessoa deve sempre ser prudente. Como mais uma informação, dizemos que o modo do imperativo também pode ser expresso pelo futuro do indicativo, o aoristo do subjuntivo, e também mediante a conjunção ??a (hína/para que), em conjunto com o subjuntivo. Caso tenha interesse, consulte os autores Rega e Bergmann (2004, p. 272-273). O modo optativo Normalmente, o modo optativo, que não tem correspondência no português, é estudado por último, nas gramáticas gregas do Novo Testamento. Isso porque sua frequência no Novo Testamento é mínima, quase insignificante. 54 Esse modo aparece mais no grego da LXX (Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento), e é muito usado no grego clássico. Segundo Soares (2011, p. 254), o modo optativo tem uma relação muito estreita com o subjuntivo e, usualmente, é estudado logo após esse. Com o tempo, o modo optativo foi substituído pelo subjuntivo, no período helenístico, ou seja, o período em que surgiu o grego koinê. No grego do Novo Testamento, o modo optativo existe apenas no presente (23 vezes) e no aoristo (45 vezes). Como nos informa Rega e Bergmann (2004, p. 279 - 280), quando usado numa oração principal, o modo optativo expressa um desejo que poderia se cumprir, ou uma mera possibilidade. Por isso, é semelhante ao subjuntivo, com a diferença de que, no modo optativo, a probabilidade do desejo e da possibilidade de uma ação se concretizar são mais distantes. Já em orações subordinadas, o optativo aparece em perguntas indiretas, como nas orações condicionais, para expressar uma condição muito improvável. Desse modo, tomando o verbo ??? (lúo/solto), como exemplo, a conjugação do optativo, embora este não apareça no Novo Testamento, seria feita como indicado, abaixo, no Quadro 3.8: Quadro 3.8 – Tempos do modo optativo Presente, Aoristo 1 e 2* Voz ativa Voz passiva Voz média Soltaria Poderia ser solto Soltaria para mim Soltarias Poderias ser solto Soltarias para ti Soltaria Poderia ser solto Soltaria para si Fonte: O autor (2018) 55 Os três tempos têm a mesma conjugação, a diferença só está no aspecto do verbo. A conjugação acima é apenas ilustrativa, pois, de certa forma, ela poderia ser diferente, dependendo da construção e do contexto. Soares (2011, p. 255) nos informa de outras possibilidades de sentido para a conjugação exemplificada, dependendo do contexto, como, por exemplo: poderia começar a soltar, poderia estar soltando, que eu possa soltar, ou mesmo pudesse soltar, etc. (SOARES, 2011, p. 255). Observe, também, que a tradução do presente e do aoristo, para o português, é a mesma. Então, qual é a diferença entre esses tempos? A diferença não está no tempo verbal, mas sim no aspecto verbal, como já dissemos anteriormente. Veja um exemplo de cada uma das possibilidades do optativo, no Quadro 3.9, abaixo: Quadro 3.9 – Usos do modo optativo Usos Exemplos 1. Desejo “[...] ????? ?µ?? ?a? e????? p??????e??”. (1 Pe 1.2) “[...] cháris humin kai eirene plethuntheín” “[...] graça a vós e paz sejam multiplicadas” ou “[...] graça e paz vos sejam multiplicadas”. 2. Possibilidade “[...] ???a?µ?? ?? t? ?e? [...]” (At 26.29) “[...] Euxaímen àn to Theo [..]” “[...] Eu rogaria ... a Deus [...]” 3. Pergunta indireta “[...] ?a? ?p?????et? t?? e?? [...]” (At 21.33) “[...] kaì epuntháneto tís eíe [...]” “[...] e perguntava quem era [..]” Fonte: O autor (2018) 56 Por ora, é suficiente que você saiba essas informações gerais s respeito do modo optativo. Para mais informações sobre o optativo, consulte Alexandre (2003, p. 255-259).

O modo do infinitivo O modo infinitivo é usado muitas vezes nas páginas do Novo Testamento, aproximadamente 2.276 vezes. O infinitivo existe apenas: ? Nos quatro tempos: presente, futuro, aoristo 1 e 2 e perfeito. ? Nas três vozes: ativa, passiva e média. Você encontra a informação completa dos vários tempos, com as respectivas vozes e a tradução, no Quadro 3.10, abaixo. Assim, com essa informação, mesmo estando em português, de posse dos dados do infinitivo (tempo e voz), você pode traduzir qualquer verbo grego, que esteja nesse modo. Quadro 3.10 – Tempos do modo do infinitivo Tempos Voz Ativa Voz Passiva Voz Média Presente soltar ser solto soltar p/ si Futuro estar para soltar estar para ser solto estar p/soltar para si Aoristo 1 soltar ser solto soltar p/ si Aoristo 2 lançar ser escrito tornar p/ si Perfeito ter soltado ser sido solto ter solto para si Fonte: O autor (2018) Observe que o infinitivo não é conjugado por pessoa (1ª, 2ª, 3ª, etc.), pois ele serve para qualquer pessoa porque depende do uso de um verbo auxiliar. 57 O tempo futuro do subjuntivo não existe em português e sua tradução é difícil, justamente por essa razão. No entanto, esse tempo não é frequente em grego. Quanto à diferença entre o presente e o aoristo (ambos têm a mesma tradução), ela está no aspecto do verbo, ou seja, o presente é uma ação a ser feita continuamente, enquanto o aoristo se refere a algo a ser feito apenas uma vez. O infinitivo é usado de muitas maneiras, assim como o subjuntivo e o imperativo, porém, a seguir, vamos dar apenas alguns exemplos do seu uso, com base em 1 Jo 3.9: “[...] ?a? ?? d??ata? ?µa?t??e??, ?t? ?? t?? ?e?? ?e?????ta?”. “[...] kai ou dúnatai hamartánein hoti ek tou Theou gegennetai”. “[...] e não pode pecar porque de Deus é nascido”. A parte daquele versículo de João está traduzida literalmente e na sequência das palavras, para que você, como estudante, não se perca na identificação das palavras. No entanto, poderia também ser traduzida assim: “e não pode pecar porque é nascido de Deus”. Note que o verbo e a sua tradução estão em negrito. O verbo ?µa?t??e?? (hamartánein/pecar) está no tempo presente, do infinitivo, da voz ativa. Se aplicarmos o aspecto do verbo, o sentido do presente é que aquele que é nascido de Deus não vive pecando, ou seja, não peca habitualmente, ou vive na prática do pecado. Agora, veja um outro exemplo do versículo de Mateus 2.2 com o verbo no aoristo: “[...] ????µe? p??s????sa? a?t?”. “[...] elthomen proskunesai auto”. “[...] nós viemos adorar a ele”. 58 “[...] nós viemos adorá-lo”. Nesse caso, note que p??s????sa? (proskunesai/adorar) está no aoristo 1, do infinitivo, da voz ativa. Se aplicarmos o aspecto do verbo, isso quer dizer que os magos vieram (também está o aoristo 2) adorar (finalidade) a Jesus uma única vez. Portanto, essa ação, presencialmente falando, não se repetiria. Para mais detalhes sobre o uso do infinitivo, consulte as obras de Rega e Bergmann (2004), pois o infinitivo tem uma multiplicidade de usos. No entanto, com base no quadro de conjugação do infinitivo apresentado, você poderá traduzir qualquer verbo que esteja no modo infinitivo, pois o quadro, embora esteja em português, é uma referência para se fazer a tradução. O modo do particípio O modo do particípio foi deixado por último, não porque seja o menos usado, ou o menos importante, mas sim porque é muito usado de muitas formas no Novo Testamento. Ele é considerado o mais difícil de todos os modos, por isso, precisa ser muito bem estudado. Nesta aula, vamos tratá-lo de modo geral. No entanto, se você quiser saber mais sobre o particípio e seus múltiplos usos, recorra a obras de autores Alexandre (2003), Rega e Bergmann (2004). Na realidade, o modo do particípio não é bem um modo, pois não tem terminações pessoais, nem se presta para fazer afirmações, pelo fato de ter características de verbo e também de adjetivo. Como verbo, embora não tenha pessoas (1ª, 2ª, 3ª, etc.), mas sirva para pessoas, tem tempo (somente o presente, futuro, aoristo 1 e o perfeito) e voz (ativa, passiva e média). E como adjetivo, tem gênero (masculino, feminino e neutro), número (singular e plural), e caso (nominativo, acusativo, genitivo e dativo). O modo do particípio pode ser usado como o particípio do português (crido, feito, enviado), mas também como o nosso gerúndio (cantando, orando, etc.), para isso, o grego usa o presente do particípio, da voz ativa. 59 Embora o particípio seja flexionado, de modo geral, a sua tradução é fácil, pois 24 palavras flexionadas no particípio equivalem a uma única tradução (uma palavra) em português. Como não reproduziremos essas flexões, elaboramos o Quadro 3.11, como referencial em português, o que permitirá a você conjugar qualquer verbo do modo do particípio, em todos os tempos, gêneros e vozes. Quadro 3.11 – Tempos do modo do particípio Tempo Voz Ativa Voz Passiva Voz Média Presente soltando sendo solto provando Aoristo 1 tendo soltado tendo sido solto tendo provado Aoristo 2 tendo lançado tendo sido escrito tendo se tornado Perfeito tendo soltado tendo sido escrito tendo provado Futuro O futuro não é comum em grego Fonte: O autor (2018) Veja como é curioso. Qualquer uma das flexões do tempo presente, por exemplo, na voz ativa, que ao todo seriam 24 flexões, teria uma única tradução: “soltando”, independentemente do seu caso e número. O mesmo acontece com os demais tempos e vozes do particípio. Assim, mediante o quadro acima, você pode traduzir qualquer verbo no modo do particípio. Veja, abaixo, o exemplo de Lucas 2.20 e tente fazer a correspondência com o quadro acima referido: “?a? ?p?st?e?a? ?? p??µ??e? d??????te? ?a? a?????te? t?? ?e?? [...]”. “kai hupestrepsan hoi poimenes doxazontes kai ainountes ton Theon [...]”. “e voltaram os pastores glorificando e louvando a Deus [...]”. 60 d??????te? é nominativo, masculino, plural, do presente, do particípio, voz ativa, do verbo d????? (doxázo/glorifico). Por sua vez, a?????te? também é nominativo, masculino, plural, do presente, do particípio, da voz ativa, do verbo a???? (aineo/louvo). Veja como é fácil traduzir os verbos referidos, tendo as informações acima citadas, e um quadro referencial para traduzir verbos no particípio. Esse emprego do particípio é conhecido como uso adverbial, o que é muito comum nas páginas do Novo Testamento, ou seja, os particípios no versículo de Lucas nos dizem como voltaram os pastores, depois de terem visitado o menino Jesus: glorificando e louvando a Deus. O fato de os dois particípios estarem no presente significa que os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus, numa ação repetida, contínua. É isso que dá a entender o modo como o grego usa os verbos no particípio e também em outros modos: o aspecto do verbo que tem a ver com a qualidade da ação. Entre os vários usos do particípio, mostraremos mais um que é muito comum no grego do Novo Testamento: o particípio articular, isto é, o particípio precedido do artigo. Quando um particípio é precedido de um artigo, o verbo vira um adjetivo substantivado, como, por exemplo, em João 3.36: “? p?ste??? e?? t?? ???? ??e? ???? a??????: [...]”. “ho pisteuon eis tov huion echei zoen aionion; [...]”. “o que crê no filho tem vida eterna: [...]”. No versículo acima mencionado, note que p?ste??? (pisteuon/crendo) está precedido de um artigo masculino, o ? (ho/o), o que o torna um adjetivo substantivado, “o que crê”, que se constitui no sujeito da frase. Esse versículo poderia, também, ser traduzido como: “o homem que crê” (pois, tanto o artigo, quanto o verbo estão no gênero masculino), ou “aquele que crê”, ou “o crente” (adjetivo). 61 Veja que o particípio articular é consistente com o tempo verbal que lhe é inerente. A tradução não poderia ser “o homem que creu” (aoristo 1), mas sim, “o homem que crê”, ou seja, no tempo presente. Se o verbo p?ste??? (pisteuon/crendo) não estivesse precedido de artigo, poderíamos traduzi-lo simplesmente como “crendo”. Às vezes, o artigo não está imediatamente antes do verbo, e pode ser que uma palavra ou outra se interponha entre o artigo e o particípio. Mesmo assim, continua sendo particípio articular, por isso, é bom você prestar atenção nisso. O fato de o verbo estar no presente, de acordo com o aspecto do verbo, significa que, aquele que crê continuamente no filho, tem continuamente a vida eterna. Pronomes Os pronomes do grego do Novo Testamento, assim como acontece no português, são vários: pessoais, demonstrativos, relativos, reflexivos, possessivos, etc. Não reproduziremos aqui as flexões de todos os tipos de pronomes, exceto os pronomes pessoais, pelo fato de esta disciplina, além de ser instrumental, também ser exemplificativa. Veja, abaixo, no Quadro 3.12, os tipos de pronomes existentes no grego do Novo Testamento: Quadro 3.12 – Tipos de pronomes Tipos de Pronomes Exemplos 1. Pessoais eu, tu, ele (a), nós, vós, eles, (as) 2.Demonstrativos este (as), aquele (s), etc. 3. Relativos o (a) qual, os (as) quais, etc. 62 4. Possessivos meu, minha, teu, tua, nosso, nossa, vosso, vossa, etc. 5. Interrogativos Que? Qual? Quem? 6. Recíprocos um ao outro, uns aos outros 7. Reflexivos a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, etc. 8. Indefinidos um, um certo, algum, alguém, alguma coisa Fonte: O autor (2018) Os pronomes empregam os casos gregos do singular e do plural e, em alguns deles, são distinguidos pelo gênero. Veja, abaixo, no Quadro 3.13, os pronomes pessoais da 1ª, 2ª e 3ª pessoas. Quadro 3.13 – Pronomes pessoais Primeira pessoa Gênero Caso Singular Plural Grego Tradução Grego Tradução - Nominativo ??? (ego) eu ?µe?? (hemeis) nós - Vocativo - - - - - Acusativo ?µe (eme) µe (me) me ?µ?? (hemãs) nos - Genitivo ?µ?? (emou) µ?? (mou) de mim, meu ?µ?? (hemon) de nós (nosso) - Dativo ?µ?? (emoi) µ?? (moi) a mim ?µ?? (hemin) a nós Segunda pessoa Gênero Caso Singular Plural Grego Tradução Grego Tradução - Nominativo s? (sú) tu ?µe?? (humeîs) vós - Vocativo s? (sú) ó tu ?µe?? (humeîs) ó vós - Acusativo se (se) te ?µ?? (humâs) vos - Genitivo s?? (sou/sú) de ti, teu ?µ?? (humon) de vós, (vosso) - Dativo s?? (soi) a ti ?µ?? (humîn) a vós Terceira pessoa 63 Gênero Caso Singular Plural Grego Tradução Grego Tradução Masc. Nominativo a?t?? (autos) ele a?t?? (autoi) eles Vocativo - - - - Acusativo a?t?? (auton) o, lhe a?t??? (autoús) os, lhes Genitivo a?t?? (autou) dele a?t?? (auton) deles Dativo a?t? (auto) a ele a?t??? (autois) a eles Feminino Nominativo a?t? (aute) ela a?ta? (autai) elas Vocativo - - - - Acusativo a?t?? (auten) a a?t?? (autás) as Genitivo a?t?? (autes) dela a?t?? (autov) delas Dativo a?t? (aute) a ela a?ta?? (autais) a elas Neutro Nominativo a?t? (auto) ele/ela a?t? (autá) eles/elas Vocativo - - - - Acusativo a?t? (auto) o/a a?t? (autá) os/as Genitivo a?t?? (autou) dele/dela a?t?? (auton) deles/delas Dativo a?t? (auto) a ele/a ela a?t??? (autois) a eles/ a elas Fonte: O autor (2018) Observe que no quadro acima todos os pronomes pessoais empregam os casos, e apenas o pronome da 2ª pessoa emprega o caso vocativo. No que se refere à 1ª e 2ª pessoas, não há um gênero especificado. Porém, em relação à 3ª pessoa, além dos casos (exceto o vocativo), os pronomes se flexionam no gênero masculino, feminino e neutro. Veja, abaixo, alguns exemplos do uso dos pronomes pessoais (em negrito) em versículos de João e relacione-os com o quadro anterior. “[...] ??? ??? e?µ? ? ???st??”. (Jo 1.20) “[...] Ego ouk eimí ho Christos”. “[...] Eu não sou o Cristo”. 64 ??? é pronome pessoal, na 1ª pessoa, e está no caso nominativo, do singular (confira no quadro), cuja tradução é: “eu”. Ele é usado de forma enfática, por João Batista, para dizer, categoricamente, que ele não é o Cristo. “[...] s? e? ? ???? t?? ?e?? [...]”. (Jo 1.49) “[...] sú eí ho huios tou Theou [...]”. “[...] tu és o filho de Deus [...]”. s? é pronome pessoal da 2ª pessoa e está no nominativo e no vocativo, do singular. Nesse caso, ele é nominativo, pois é o sujeito da frase. Natanael está dizendo, enfaticamente, que Jesus é o filho de Deus. Mais um exemplo para fecharmos o assunto: “?µe?? f???? µ?? ?ste [...]”. (Jo 15.14) “húmeis philoi mou este [...]”. “Vós sois meus amigos [...]”. Na frase anterior, dita por Jesus aos seus discípulos, existem dois pronomes pessoais: ?µe?? e µ??. ?µe?? é pronome pessoal, da 2ª pessoa, e está no caso nominativo plural (sujeito da frase), sendo traduzido “vós”, de maneira enfática. O µ?? é pronome pessoal da 1ª pessoa e está no caso genitivo, do singular, cuja tradução literal seria “de mim”, ou melhor, seria “meus”. O genitivo, entre outras funções, serve para indicar posse. Confira isso no quadro anterior referente aos pronomes. Preposições Uma preposição é uma palavra usada numa oração, antes de uma outra palavra (pré + posição), e/ou uma palavra que pode compor outra. As preposições formam uma categoria fixa de palavras, ou seja, não declinam ou sofrem flexões, o que facilita muito a sua apreensão e tradução. 65 De início, você precisa de uma lista de preposições para poder traduzilas, porém, como nos alerta Alexandre (2003, p. 154), por vezes, você precisará estudar o contexto para poder traduzi-las corretamente. Embora as preposições sejam invariáveis, elas se deixam acompanhar ou suceder por palavras que utilizam um ou mais casos: o acusativo, o genitivo e dativo (nunca o nominativo), o que determinará os seus significados. Assim, algumas preposições empregam apenas um caso (acusativo, genitivo ou dativo), outras empregam dois casos (genitivo e dativo) e ainda outras, três casos (acusativo, genitivo e dativo). Veja, mais à frente, o quadro de preposições. Assim, dependendo do caso que a palavra seguinte à preposição usar, esta poderá ter sentido diferente. Veja, abaixo, dois versículos em que aparece a preposição ?at? (katà/conforme, contra). Em um, ela é traduzida por “conforme”, pois o substantivo subsequente à preposição está no caso acusativo. Em outro, é traduzida por “contra”, pelo fato de o substantivo subsequente à preposição estar no genitivo. Exemplo 1: “[...] ?a? t?te ?p?d?se? ???st? ?at? t?? p????? a?t??”. (Mt 16.27) “[...] kaì tote apodosei ekásto katà ten prâxin autou”. “[...] e então retribuirá a cada um conforme a prática dele (de cada um) ”. Exemplo 2: “[...] ?t? ? ?de?f?? s?? ??e? t? ?at? s??,” (Mt 5.23) “[...] hoti ho adelphos sou echei katà sou,” “[...] que o irmão de ti tem alguma coisa contra de ti, ” (lit.) “[...] que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, ” 66 Quanto à classificação, as preposições são divididas em próprias e impróprias. As próprias são dezoito e as mais usadas. As impróprias são usadas, ás vezes, como advérbios, outras vezes, como preposições. O funcionamento das preposições, como foi dito acima, pode ser como palavras separadas, pré-postas antes de uma outra palavra, que utiliza um certo caso, ou a preposição pode, também, compor uma palavra. Veja o seguinte exemplo: as duas preposições que aparecem no versículo de João 4.30, uma está antes de uma palavra no caso genitivo, a outra está antes de uma palavra que está no acusativo: “[...] ??????? ?? t?? p??e?? ?a? ?????t? p??? a?t??”. “[...] exelthon ek tes poleos kai erchonto pros auton”. “[...] saíram (os samaritanos) da cidade e vinham para ele (Jesus) ”. No que diz respeito à função, ou funções, a preposição que é preposta às palavras pode expressar a relação de um substantivo com verbos e outras partes de uma determinada oração, indicando localização, direção ou relação (REGA; BERGMANN, 2004, p. 103). Preposta: significa colocada antes. No caso das preposições, quer dizer colocada antes das palavras. Quando usadas para compor uma palavra, assumindo a posição de um prefixo, as preposições cumprem uma das três funções: Enfatizar ou intensificar a palavra a que se liga, reforçando o seu sentido. Exemplo: ß??p? (blepo) significa “ver”. Se acrescentarmos a preposição d?? (diá/através de) à palavra ß??p?, d?aß??p? (diablepo), o significado será: “através de, ou plenamente”. 67 Indicar direção, tempo, lugar, etc. Exemplo: o verbo ????µa? (erchomai) significa “ir/vir”. Se acrescentarmos a preposição e?? (eis/para dentro de) à palavra ????µa?, e?s????µa? (eiserchomai), o sentido será: “ir/vir para dentro”, ou “entrar”. Alterar o sentido de uma palavra. Exemplo: ß??p? (blepo) significa “ver”. Se acrescentarmos a preposição ??? (aná), ??aß??p? (anablepo) significará: “recuperar a vista”, ou seja, o sentido da palavra muda. As preposições impróprias não são usadas tanto, quanto as próprias. Diferentemente das preposições próprias, as impróprias não formam palavras compostas e também são usadas antes de palavras que utilizam os casos acusativo, genitivo e dativo. Veja, abaixo, nos Quadros 3.14 e 3.15, as preposições com os seus significados gerais, de acordo com os casos que empregam ou regem. Quadro 3.14 – Preposições que empregam um caso Acusativo Preposição Transliteração Tradução e?? eis a, para (“para dentro de”) p??? pros a, para (“em direção a”) ??? anà para cima Genitivo ?? ek de (“de dentro de”) ?p? apo de (“da direção de”) ???? * áchri até (tempo ou lugar) ????? * áchris 68 ??? * heos até (tempo ou lugar) ?µp??s?e? emprosthen diante de, perante, na presença de ???p??? * evopion diante de, perante ??e?a * heneka por causa, porque, por amor a ??? * exo fora de ????e? * exothen ?p?s? * opíso depois de, atrás de (tempo ou lugar) p??a? * peran além de, para além de p?? pro antes de (tempo ou lugar) ????? * chorís sem, à parte Dativo ?? en em s?? sún com Fonte: O autor (2018) Quadro 3.15 – Preposições que empregam ou regem dois e três casos Preposição Significado (Acusativo)